Esta semana visitamos mais um ateliê, dentro da série de encontros com nossos artistas representados. Desta vez, Gabriel Secchin nos recebeu em seu espaço – na cobertura de um antigo sobrado localizado na Rua São Clemente, que corta o bairro de Botafogo na zona sul carioca.
Somos logo surpreendidos pela vista, que se desdobra em duas possibilidades, graças ao arranjo generoso de uma proeminente varanda, ou “quase-laje”. À esquerda, mais próximo, o Pão de Açúcar revela-se majestoso; à direita, um pouco além, em perspectiva de “escanteio”, está o morro do Corcovado com a estátua do Cristo Redentor. O corredor formado pela rua e pelos edifícios alongados que se impõem sobre os resquícios da arquitetura colonial garante bons ventos e um refresco extra para verões infernais.
Dentro do ateliê, as telas parecem regurgitar esse cenário tropical icônico e seguir suas regras internas. Reunidas na parede, revelam um ímpeto crítico ou uma vontade de comentar o estado das coisas. A frouxidão temporal causada pela pandemia nos últimos meses permitiu ao artista uma maior fruição com suas crias, o que de certa maneira fomentou a sua disposição pelo “aterramento”. Paisagens e lugares ganham forma e expressão.
Novas narrativas têm sido engendradas a partir de exercícios de justaposição, de onde brotam situações inusitadas, como num jogo de interpretação de papéis. O uso do bastão de óleo, em diálogo com um desenho menos calculado, viabiliza o erro.
Entre os destaques desse novo corpo de trabalhos, surge quase a contragosto – e no limite entre rebentar e submergir – uma figura familiar da brasilidade, conceito que parece viver sua provação (ou purgação, para os mais fatalistas). Em outras pinturas, a violência se manifesta em diferentes nuances – seja pela desforra da natureza, representada por um antropomorfismo lúdico; pela intolerância reacionária, marcada pela reencenação de julgamentos de exceção; ou quando a fronteira entre fetichismo e mistificação parece se esvair.
Em todas elas, o universo temático multi-referencial de Secchin desvela uma atmosfera que seduz, tanto pelo incômodo que provoca quanto pelas esquisitices que a habitam.
Respire, fique à vontade e permita-se envolver.
Confira na galeria a seguir alguns registros da visita.
——–
Galeria de fotos
——–
Bio
GABRIEL SECCHIN nasceu em 1989 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Bacharel em Design pela PUC-RJ, estudou pintura com Luiz Ernesto e Bruno Miguel na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, também no Rio de Janeiro.
Na sua prática artística, tem um interesse especial pelos contrastes e pelas tensões visuais e conceituais de elementos que, embora vindos de diferentes contextos, são impelidos a desenvolver um diálogo. Com doses de humor e sátira, sua obra em pintura explora a incongruência de alguns aspectos da vida humana. Para Secchin, existem artifícios pictóricos usuais que funcionam como isca para que o observador tenha acesso a elementos imprevisíveis, delicados, banais ou até mesmo irresponsáveis, capazes de gerar algum nível de desconforto.
Entre suas exposições individuais mais importantes, destacamos: “Autoclave”, curadoria do artista e texto de Victor Mattina, Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2019); “Golden Era”, em colaboração com Felipe Barsuglia, curadoria do artista, com áudio/texto de Negro Leo, Salão Lenny Niemeyer, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2019); “Stracciatella/Flocos”, curadoria do artista, GC2 Contemporary, Terni, Itália (2017); “O Testemunho”, curadoria de Bernardo Mosqueira, Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2014).
Nos últimos anos, tem participado de inúmeras exposições coletivas, entre elas: “MOLT BÉ!”, curadoria de Raphael Fonseca, Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2018); “Projeto Farol–Alegoria”, curadoria de Luiz Ernesto e Bruno Miguel, Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2017); “Glimpse”, Pilotenkueche/Spinerai, Leipzig, Alemanha (2016); “Pra Começar”, curadoria de Jaime Portas Vilaseca, Portas Vilaseca Galeria, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2015); “Novas Aquisições 2012/2014 Coleção Gilberto Chateaubriand”, curadoria de Luiz Camillo Osorio e Marta Mestre, Museu de Arte Moderna – MAM, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2014); “9º Abre Alas”, curadoria de Daniela Castro, João Modé e Alexandre Sá, A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil (2013); entre outras. Já participou de residências artísticas na Alemanha (Pilotenkueche, em Leipzig, 2016) e na Islândia (Wildfjords Artist Residency – WFAR, em Isafjordur, 2015). Seus trabalhos fazem parte da Coleção Gilberto Chateaubriand do MAM – Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Para mais informações, confira a página de perfil do artista por aqui.
——–
Seguindo os protocolos da OMS, esta visita respeitou as regras de uso de máscara e distanciamento social.