Iniciamos uma série de visitas aos ateliês dos nossos artistas representados e a primeira delas aconteceu no espaço que o artista Zé Carlos Garcia ocupa no centro histórico da cidade do Rio de Janeiro.
Cercado por materiais e artefatos que lembram um “gabinete de curiosidades”, Garcia vem trabalhando há alguns meses no desenvolvimento de uma nova série de objetos escultóricos para a sua primeira exposição individual na Portas Vilaseca Galeria, com abertura prevista para o segundo semestre deste ano.
A solidão dos tempos pandêmicos obviamente afetou a rotina de trabalho no ateliê, o que levou o artista a tomar as rédeas de todas as etapas de produção das suas obras. Nesse processo de isolamento e reflexão, prevalece o exercício introspectivo da artesania, logo, a comunhão entre erros e acertos torna-se mais natural e instintiva.
Ao ser provocado pelas condicionantes frágeis de um mundo em suspensão, às vias de se esfacelar, o artista aponta para um despertar criativo que desvela novas paisagens, por ora recolhidas na órbita do seu fazer.
Formas que parecem compor um jardim edênico boschiano circulam entre neo-carrancas invocadas a partir das memórias de uma infância margeada pelo Rio São Francisco. O hiper-realismo alegórico de Garcia também revela poéticas particulares, através da justaposição de novos materiais encontrados e referências que percorrem as tradições populares e a natureza dos trópicos.
Confira na galeria a seguir alguns registros dessa primeira visita.
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Galeria de fotos
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Bio
ZÉ CARLOS GARCIA (Aracaju, SE, 1973) estudou Escultura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ) e frequentou diversos cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, também no Rio de Janeiro.
A sua prática artística está centrada na investigação do corpo como peça central – seja animal, humano ou escultural – e na experiência como ação voluntária que altera a paisagem, passando por constante mudança morfológica, também através da adição de novos elementos. O simbolismo dos discursos de poder que marcam a construção da história da humanidade também está presente na pesquisa do artista, que se dedica a criar a partir de corpos existentes, às vezes mortos, estáticos, encontrados, naturais ou artificiais, para gerar objetos – “seres” – sob o signo da escultura. Peças e fragmentos de móveis antigos associados a penas, plumas de carnaval e crinas de cavalo são organizados para criar híbridos com poder estético e alegórico, assim como marcos de conquista e de narrativas territoriais servem para construir um ideário de eternidade e a perda do poder como traço de ruína e efemeridade.
Nos últimos anos, Zé Carlos Garcia tem participado de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Entre as suas exposições individuais mais recentes, destacamos: Torto, curadoria de Paula Borghi, Cassia Bomeny Galeria, Rio de Janeiro (2018) e Do pó ao pó, curadoria de Isabel Portella, Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro (2017). Entre as exposições coletivas, destaque para: Busan Biennale (Busan, South Korea, 2018); Cavalo come Rei (Fondazione Prada, Milão, Itália, 2018 – em colaboração com a artista Laura Lima); A Room and a Half (Ujazdowski Castle Centre for Contemporary Art, Varsóvia, Polônia), entre outras. Seus trabalhos fazem parte de importantes coleções no Brasil, como a coleção da Fundação Marcos Amaro, em Itu, São Paulo.
Para mais informações, confira a página de perfil do artista por aqui.
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A visita respeitou as regras de uso de máscara e distanciamento; o artista tirou sua máscara apenas para o registro fotográfico.