Azularar

Tão preto que chega a ser azulado, comentário corriqueiro em terras onde as diferenças raciais são costuradas por um preconceito cotidiano negociado a quem pode ser dispensado da pretitude. Com isso, o colorismo, há muito tempo, é requintado em gradações e termos que vão do mais azul ao menos marrom para distinguir pretos e brancos. Tais distintivos confirmam ou negam nossa pertença à afrodescendência.

A cor azul ultramar, na exposição “Das promessas que a gente fez”, de Kika Carvalho, é protagonista e deflagradora da metáfora racial. Na maioria das pinturas, uma paisagem praieira predomina. A praia, lugar supostamente democrático que recebeu, durante quatro séculos, em países colonizados, hordas de pessoas advindas do continente africano em condições sub-humanas. E mesmo assim, ainda hoje, continua disputada por uma burguesia que se acha donatá...