
Esta semana visitamos mais um ateliê, dentro da série de encontros com nossos artistas representados. Desta vez, Gabriel Secchin nos recebeu em seu espaço – na cobertura de um antigo sobrado localizado na Rua São Clemente, que corta o bairro de Botafogo na zona sul carioca.
Somos logo surpreendidos pela vista, que se desdobra em duas possibilidades, graças ao arranjo generoso de uma proeminente varanda, ou “quase-laje”. À esquerda, mais próximo, o Pão de Açúcar revela-se majestoso; à direita, um pouco além, em perspectiva de “escanteio”, está o morro do Corcovado com a estátua do Cristo Redentor. O corredor formado pela rua e pelos edifícios alongados que se impõem sobre os resquícios da arquitetura colonial garante bons ventos e um refresco extra para verões infernais.
Dentro do ateliê, as telas parecem regurgitar esse cenário tropical icônico e seguir suas regras internas. Reunidas na parede, revelam um ímpeto crítico ou uma vontade de comentar o estado das coisas. A frouxidão temporal causada pela pandemia nos últimos meses permitiu ao artista uma maior fruição com suas crias, o que de certa maneira fomentou a sua disposição pelo “aterramento”. Paisagens e lugares ganham forma e expressão.
Novas narrativas têm sido engendradas a partir de exercícios de justaposição, de onde brotam situações inusitadas, como num jogo de interpretação de papéis. O uso do bastão de óleo, em diálogo com um desenho menos calculado, viabiliza o erro.
Entre os destaques desse novo corpo de trabalhos, surge quase a contragosto – e no limite entre rebentar e submergir – uma figura familiar da brasilidade, conceito que parece viver sua provação (ou purgação, para os mais fatalistas). Em outras pinturas, a violência se manifesta em diferentes nuances – seja pela desforra da natureza, representada por um antropomorfismo lúdico; pela intolerância reacionária, marcada pela reencenação de julgamentos de exceção; ou quando a fronteira entre fetichismo e mistificação parece se esvair.
Em todas elas, o universo temático multi-referencial de Secchin desvela uma atmosfera que seduz, tanto pelo incômodo que provoca quanto pelas esquisitices que a habitam.
Respire, fique à vontade e permita-se envolver.
Confira na galeria a seguir alguns registros da visita.















