Mai-Britt Wolthers: cores que abrigam o mundo¹

Na urgência de instituir parâmetros para classificar movimentos da história da arte, leituras modernistas e dogmáticas erigiram uma falsa questão: a oposição entre abstração e figura. Como todo raciocínio opositivo, baseado em identidades estáticas e conclusivas, represava-se nessa dicotomia uma enxurrada de formalizações situadas às margens dos dois extremos antagônicos, na fronteira entre eles ou tocando nos dois termos simultaneamente.

Não há dúvida que o Brasil dos anos 1950, com o projeto construtivo instaurado e enunciando uma potência moderna vigorosa, sedimentou no meio artístico, e em caráter decisivo, a influência da abstração geométrica internacional. Não se discute tampouco que a apropriação da arte abstrata nessa época teria sido a verdadeira porta de entrada do país na modernidade, estabelecend...