O artista brasileiro Arthur Palhano participa atualmente do programa de residências da Miettinen Collection, uma renomada coleção de arte contemporânea em Berlim, fundada por Timo Miettinen. Conhecida por seu foco na pintura, a coleção reúne um elenco diverso de artistas internacionais, com ênfase especial em nomes da Finlândia e da Alemanha. Surgida a partir de um núcleo de paisagens finlandesas dos séculos XIX e XX, a Miettinen Collection evoluiu para se tornar uma plataforma dinâmica de diálogo entre práticas históricas e contemporâneas, frequentemente organizando exposições que convidam artistas internacionais a trabalhar in loco e a se envolver diretamente com o contexto cultural berlinense.
Durante sua estada em Berlim, Palhano tem vivido a residência como um espaço de criação e também como uma jornada introspectiva. Seus registros de ateliê (veja galeria de fotos abaixo) revelam um processo profundamente ligado à memória, às sensações e à experiência do deslocamento:
“Na volta da feira de antiguidades, passo pela feira de frutas: compro tangerinas. O ateliê já cheira como o do Brasil. O carpete é cinza. O céu, quase sempre, também.”
Entre os tons acinzentados de Berlim e as lembranças vividas no Brasil, Palhano constrói uma topografia pessoal de pertencimento. Sua rotina, marcada por encontros com corvos, raposas e pelos ritmos sutis da cidade, se mistura às memórias de infância em Del Castilho, Guapimirim e Niterói.
“Quando trabalho, volto à infância. Boas lembranças, más lembranças. Entro num fluxo que me leva para longe (…) às vezes esqueço que estou em Berlim.”
Em suas pinturas, motivos recorrentes como luvas, cadeados de mágico, troncos descascados e olhos irritados reaparecem como fragmentos de um diário íntimo. Como observa o próprio artista, o ateliê se torna um refúgio físico e emocional, um espaço onde gestos cotidianos se transformam em atos de narrativa e reinvenção pessoal.
“Um dia, Leiko Ikemura apareceu no ateliê e disse que meu trabalho é como um diário. Ela tem razão.”
Por meio da residência, que amplia o diálogo de sua obra com o circuito internacional, Arthur Palhano aprofunda a sua pesquisa pictórica sobre intimidade, memória e imaginação, explorando novas referências e experiências no contexto artístico de Berlim. Em janeiro de 2026, o artista apresenta uma exposição inédita com o resultado dessa experiência no espaço que abriga a Miettinen Collection.
